segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Situações (195) - A janela
Não sabe por que a vida ainda o procura toda manhã, com seus costumeiros truques. Conhece todos: o sol entrando serelepe pelas frestas da janela, o convidativo canto dos pássaros na árvore do quintal, o cheiro de café que vem da casa vizinha. Todo dia, antes de abrir a janela, lembra-se dessas artimanhas, e de outras tantas de que foi vítima, e prepara-se para não cair em nenhuma tentação. Hoje, assim que abriu a janela, viu no começo da rua, andando na direção da casa dele, uma garota de cabelos loiros. Mais próxima, já não parecia tão jovem. Era, em todo caso, uns vinte anos mais moça qie ele - ou menos velha. Ao passar, ela sorriu, um sorriso como fazia muito tempo ele não recebia de alguém. O coração imediatamente lhe sugeriu coisas e ele esteve para correr até o portão e seguir a mulher por onde ela fosse. Por pouco não fez isso. Acabou saindo da janela e foi para o seu trabalho no computador, no outro quarto, seu improvisado escritório. Respirava com alívio. Tinha escapado mais uma vez ao convite da vida.
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