quarta-feira, 2 de março de 2011
Saltimbanco
Não sabe por que o sol toda manhã insiste em voltar com suas trampolinagens para tentar engodá-lo. Abre a janela e sempre vê a mesma cena: o velho trapaceiro convocando o aroma das flores, o canto dos passarinhos e tudo mais que possa entreter a humanidade e impedi-la de pensar que no final do caminho há frio só e trevas. Deixa que o sol faça seus números de malabarismo, dê piruetas, conte suas rançosas piadas e cantarole suas musiquinhas infantis. Não ri, nem sequer sorri, receando que o astuto saltimbanco venha a ver nisso aceitação ou aplauso. Não concede ao espetáculo mais do que cinco minutos, tempo suficiente para bocejar, se espreguiçar, fechar a janela e, no simulacro de noite que consegue com todas as cortinas e frestas fechadas, esperar que a noite real venha e mande o farsante se exibir em outro palco.
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