quinta-feira, 16 de junho de 2011
A sentença
Ela vai lhe dizer adeus, ele pressente, ele sabe. Toda manhã, ao abrir a janela, ele olha tristemente para o sol e se pergunta: será hoje? Durante o dia, cada vez que surge uma mensagem no computador ou o celular toca, receia: será agora? À noite, custa a dormir, dorme mal e acorda várias vezes de madrugada, julgando ter ouvido o telefone: será quê? Quando se levanta e vai fazer a barba, o que vê no espelho é um sofrido rosto de sobrevivente. E, ao abrir a janela para o sol, para mais um dia, tenta não pensar, mas pensa, agoniado: será hoje, meu Deus? E respira fundo, fundo, porque é hora de ligar o micro e o celular. Este é, de todos os momentos, o que mais teme, talvez por ter lido tantos livros em que os sentenciados à morte eram executados ao amanhecer.
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