quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Flagelação
Ele sabe que daqui a dois anos, ou cinco, ou dez, o amor morto não doerá mais, ou doerá menos, em sua alma. Sabe que baixarão, contínua e piedosamente, as sombras do esquecimento. E isso, em vez de confortá-lo, rasga no seu peito um desespero que o sufoca e o faz reunir todas as ternas lembranças: um riso despropositado, um roçar de mãos, ainda que ocasional, uma palavra comum que, dita por ele e por ela ao mesmo tempo, soou como se fosse mágica, um objeto bobo que se tornou um amuleto para os dois. Ele reúne cada uma dessas pequenas coisas e se flagela com elas, e se açoita, e grita de dor e de esperança, como se pudesse assim despertar o amor, que jaz com os olhos fechados e o coração frio.
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