quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Manifesto
Menina que passeias com teu cãozinho pelo parque, permite que eu te diga duas palavrinhas. Não sei o que pensas da poesia que anda aí pelos livros e pela internet, mas ouso imaginar que, como a mim, ela não te emocione muito. Os críticos dizem que ela deve ser assim, em nome dos novos tempos, mas eu, que tentei fazê-la como eles querem, te confesso que não consegui. Todas as vezes que tentei, tentei pensando em alguém exatamente como tu, uma menina bonita andando com o cachorrinho num parque. E todas as vezes, no fim, me pareceu que havia escrito para alguém que não tinha nada de ti. Quero te dizer hoje, agora, aqui, como se fosse um manifesto, que, ensinem o que ensinarem os críticos, voltarei a seguir somente o coração, a sua métrica e as suas rimas, por mais pobres que sejam. E escreverei, como quando tinha dezoito anos, poemas que possam fazer brilhar os olhos de meninas como tu, ainda que seja um brilho fugaz, provocado por palavras frágeis que o vento não terá trabalho nenhum para dispersar. Não pensarei mais em antologias, em prêmios, me fixarei em ti e na graça com que acompanhas teu cachorrinho esta tarde. Escreverei para ti e para ele, embora já me falte o vigor de décadas passadas. Não te peço nada em troca, nem sequer um beijo rápido em meu rosto cansado. Posso, como recompensa, se me concederes, beijar teu cachorro, posso beijá-lo com a emoção que ainda tenho. Não temo mais o ridículo, agora que redescobri a verdadeira poesia, e, se houver por aí, no parque, algum crítico desses que falam em estrutura, em forma e em conteúdo, que ele seja chamado para ver como tu e teu cachorro me ouvem com simpatia e como os teus olhos, e os dele, me dizem que sim, que sou um poeta.
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