Com estas mãos matei
um dia um jovem
que tinha o meu nome
sua esperança calei
seus sonhos reneguei
seu sangue bebi
seu corpo enterrei
Ele amava
a poesia
eu a sabedoria
ele o lirismo
eu o pragmatismo
ele o incerto
e eu decerto
o certo
nada senão o certo
As estrelas
que ele idolatrava
- ele, não eu -
há muito já
não pode vê-las
porque a terra
seus olhos tolos comeu
Dele
nem os restos restaram
enquanto eu
eu e estas mãos
que o mataram
chamamos o garçom
e perguntamos
o que na cozinha
nos prepararam
Me alimento só do bom
nada de ambrosias
de etéreas iguarias
só frango
vaca leitão
E aqui onde alimento
minhas sete décadas
bem pesadas
não entram estetas
artistas ou poetas
Fora todos fora daqui
Que fiquem na rua
com seus secos intestinos
morrendo de fome
e latindo para a lua
sonetos alexandrinos.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
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