terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Borges

Costuma-se indicar, aos jovens interessados em uma iniciação literária, que leiam os mestres. Pensei nisso hoje, ao fazer mais uma leitura de O Aleph, de Jorge Luis Borges. Depois de terminá-la, a devastadora pergunta que me fiz foi se eu me achava capaz de escrever algo ao menos parecido com aquilo. E esse adjetivo, "parecido", soou como uma condenação daquilo que eu devia ter descoberto na primeira vez em que li O Aleph: minha presunção. Borges e mais uns trinta ou quarenta escritores - não mais - na literatura universal de todos os tempos não podem ser tomados como modelo. A simples menção ao nome - Jorge Luis Borges - é um daqueles casos em que os lábios de quem o pronunciasse deveriam transformar-se no horror dos horrores, num ninho de serpentes, em algo que desencorajasse em todos os mortais a ousadia da repetição. O nome Borges não há de ser pronunciado em vão, e indicá-lo a um jovem como exemplo será condená-lo ao fracasso, se bem que pertença à natureza do homem esse impulso insano de imitar os deuses e - jactância das jactâncias - superá-los. Recorrendo a uma metáfora simples: Borges é outro departamento.

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