sexta-feira, 13 de abril de 2012
Um pinguim para a rainha
Malu é uma garotinha de quatro anos. Seria uma menina comum, se não fosse uma rainha. Ela não pertence a uma família real: a mãe é professora, e ganha muito mal, e o pai é auxiliar de escritório, e não ganha nada bem. Os avós paternos, e os maternos, são também gente simples. De onde, então, Malu tirou a ideia de que é uma rainha, ninguém sabe. O fato é que desde os dois anos ela é mandona, respondona, majestática. Quer tudo, exige tudo, e que nem pensem em contrariá-la: ela esperneia, grita, xinga e despeja sobre os desobedientes sua ira régia. Esses acessos, que felizmente são apenas dois ou três por dia, a fizeram ser conhecida, na família e até fora dela, como Rainha Maria Lúcia. Às vezes, esse tratamento assume um tom jocoso, e até depreciativo. Malu, porém, não dispensa nenhuma das prerrogativas que o título lhe concede. Um exemplo de como ela defende com veemência esses direitos pôde ser observado neste fim de semana. Ela estava em Santos, com o pai e a mãe, e, tendo achado a praia muito desinteressante, foi levada ao Aquário Municipal. Entrou compenetrada - era a primeira vez que ia lá - e começou a observar, com sua indiferença de rainha, as tartarugas, os polvos, as lagostas, os tubarões. Enquanto as outras crianças, em alegres tropelias, enchiam o imenso aquário de exclamações de júbilo, de surpresa, de admiração e de medo, ela olhava tudo como se já conhecesse aquilo desde antes de nascer. Parecia uma senhora de sessenta anos examinando uma coleção de tecidos raros com um pincenê. O pai e a mãe, quando ela disse que queria ir embora, se olharam, decepcionados: ela não tinha gostado. Por isso, foi enorme a surpresa deles quando a pequena rainha, assim que saíram do aquário, determinou: "Eu quero um pinguim." Diante do aquário, uma banca de camelô exibia miniaturas de animais marinhos. O dono da banca estava conversando com um vendedor de sorvetes e foi seu filho, um garoto de uns dez anos, quem atendeu a menina. Pegou um pinguim grande e um pequeno e os mostrou a ela. "Um de verdade", disse Malu. "O quê?", perguntou o pai. "Eu quero um de verdade", respondeu Malu, mexendo-se inquieta no colo dele. O menino ofereceu de novo o pinguim grande e o pequeno. "Eu disse de verdade"", berrou a jovem rainha, dando um tapa que jogou os dois pinguins ao chão. Enquanto Malu, o pai e a mãe se afastavam, o dono da banca puxou o filho pela orelha: "Menino burro! Nunca você vai aprender a trabalhar." O garoto pensou nos amiguinhos, que naquele momento deviam estar vagabundeando, jogando bola e nadando, e recolheu os pinguins com uma revolta que o fez desejar que a menina riquinha quebrasse as pernas, os braços, morresse. Quem ela pensava que era? Uma rainha?
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