quinta-feira, 5 de julho de 2012
A palavra amor
Apareceu um dia na cidadezinha e durante o mês em que lá ficou foi inútil tentarem fazer amizade com ele ou saber por que estava lá. Andava pela rua principal todas as tardes, entre as seis e as seis e meia, e dizia sem parar a única palavra que o ouviram pronunciar naqueles trinta dias: amor. Ele a repetia a cada três passos, como se fosse uma invocação, e, sempre andando e dizendo amor, sumia. Acabaram se acostumando e quando, depois de um mês, notaram sua ausência, sentiram que iam ficando mais melancólicas as tardes de outono. Souberam, já chegado o inverno, que havia agora numa cidadezinha próxima um maluco que andava pela rua dizendo amor, amor, amor, e sentiram-se miseravelmente tristes e pobres. Entre as seis e as seis e meia da tarde, calavam-se todos e esperavam que o vento trouxesse da cidade vizinha aquela palavra que agora talvez estivessem preparados para compreender. Mas jamais voltaram a ouvi-la e, quando tentavam eles mesmos dizê-la, era um arremedo, duas sílabas sem paixão e sem insânia.
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