Um soneto de Shakespeare, traduzido por Ivo Barroso, um exemplo do que o amor era capaz de inspirar em outros tempos e um convite para que os enamorados nele se espelhem e tentem homenagear as amadas como elas merecem. Não acredito que as mulheres tenham perdido o feitiço e o encanto. Suponho que aos homens venha faltando a capacidade de percebê-los e exprimi-los. Extraído do segundo volume das Obras Completas de William Shakespeare, publicadas em 1981 pela Editora Abril.
"Devo igualar-te a um dia de verão?
Mais afável e belo é o teu semblante:
O vento esfolha maio inda em botão,
Dura o termo estival um breve instante.
Muitas vezes a luz do céu calcina,
Mas o áureo tom também perde a clareza:
De seu belo a beleza enfim declina,
Ao léu ou pelas leis da natureza.
Só teu verão eterno não se acaba
Nem a posse de tua formosura;
De impor-te a sombra a Morte não se gaba
Pois que esta estrofe eterna ao Tempo dura.
Enquanto houver viventes nesta lida,
Há de viver meu verso e te dar vida."
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