sábado, 15 de dezembro de 2012

Dois poemas de Eugenio Montale

"Cobri de alpiste a sacada
para o concerto da madrugada de amanhã.
Apaguei a luz e esperei pelo sono.
E já na passarela se inicia
o desfile dos mortos grandes e pequenos
que conheci em vida. É difícil distinguir
quem eu gostaria ou não que
regressasse entre nós. Lá onde estão
parecem inalteráveis por um algo mais
de decomposição sublimada. Nós fizemos
o melhor de nossos esforços para piorar o mundo."

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"O homicídio não é o meu forte.
De homem nenhum, talvez de algum inseto,
algum mosquito esmagado com um chinelo
na parede.
Durante muitos anos usei os mosquiteiros
para protegê-los. Depois, por muitíssimo tempo,
tornei-me eu próprio um inseto, mas indefeso.
Acabei descobrindo que viver
não é questão de dignidade ou de outra qualquer
categoria moral. Não depende,
nunca dependeu de nós. A dependência
pode até exaltar-nos, mas não nos alegra nunca."

(Do livro Poesias, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicado pela Record.)

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