sexta-feira, 3 de maio de 2013

De madrugada,

 por cansaço, sua voz se torna mais fraca e parece soar mais terna. Às vezes, já nem ele mesmo a ouve, tão débil sai da garganta, mas continua a dizer as palavras de amor, troca-as, inverte-as, embaralha-as, como se elas, repetidas de uma forma que ele esqueceu, pudessem trazer de volta a magia. Hoje ele as dirá de novo, com mil cento e trinta combinações. Esperará, em vão. Depois, fechará a janela e se deitará para o sono que, quando vem, é seu único alívio e sua pálida alegria. Amanhã, bem cedo, no seu bloquinho, recomeçará a arranjar as palavras que talvez possam recompor o sortilégio. E, de madrugada, com os olhos desvairados, confiará ao vento as novas combinações: mil cento e quarenta.

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