sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não ouviste, guria...

... chamarem teu nome? Te chamaram na São João, na Nothmann, no Arouche. Perguntaram por ti, guria, em todos os cantos da cidade. São os poetas que ouviram falar da tua beleza e querem te ver. Perguntaram aos guardas de trânsito, aos guardas-noturnos, aos gatos madrugadores. Não suportam mais sofrer por ti, guria. Perguntaram a mim também e eu quis saber como eras. Todos te descreveram e, enquanto o faziam, os olhos deles se enchiam de lágrimas. Eu disse que não te conheço, guria, mas quando se foram senti pena deles e chorei também, porque não tenho como descrever-te melhor. Tantos poetas te exaltando, guria, e tu dormes, porque ouviste dizer que a descrição da beleza não há de ser alcançada plenamente por ninguém. Tu dormes, guria, com tua indizível beleza, e eu te chamo em vão. Não acordes, guria. Meu soneto tem rimas pobres e pés quebrados.

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