sexta-feira, 3 de maio de 2013
É de madrugada...
... que se pode ver o amor, o verdadeiro - aquele destinado a procurar sempre, sem achar. O amor é um vira-lata perdido e escorraçado. Late por latir, uiva por uivar. Sabe que jamais lhe abrirão uma porta e que desinfetarão todos os postes nos quais deixou sua esperançosa urina. Ele anda porém pelas esquinas, assim que os ruídos da noite arrefecem. Não há uma vila, um parque, um jardim que não conheça. Leva para a mais obscura periferia seu cio. Às vezes encontra no caminho um ou outro homem, todos pálidos, que também desesperançados vão contando nos dedos sílabas de poemas que as amadas não receberão ou, se receberem, rasgarão sem ler sequer a primeira estrofe. Sofre o cachorro, sofre o homem, porque o amor é o carrasco de um e o verdugo do outro. O amor é o mais impiedoso dos seres.
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