segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Um soneto de Shakespeare

"Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpera assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
 
       Contra a foice do Tempo é vão combate,
       Salvo a prole, que o enfrenta se te abate."

(De Obras de William Shakespeare, tradução de Ivo Barroso, publicação da Editora Abril.)

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