domingo, 7 de fevereiro de 2016
Três ou dois
Daqui a três anos, ou até mesmo dois, ele pensa, ela será só uma mulher mais gorda que hoje, interessada apenas em ficar dia e noite vendo séries de tevê. Com a aflição que ainda lhe dá lembrar-se dela, ele procura fixar-se nessa antecipação do futuro e sente-se momentaneamente feliz, porque daqui a três anos, ou dois, estará isento de partilhar algum episódio de série com ela e de ter nas narinas o cheiro áspero daquele fuminho do qual ela certamente ainda não se terá livrado. Ele diz a si mesmo: já pensou? Ufa! Como foi bom terminar. Diz e espera o efeito, mas já não se sente feliz, nem aliviado. A culpa o faz então reprojetar a imagem dela, e ele a refaz tal qual foi há cinco anos, como talvez ainda esteja agora, tão bela e tão longe dele.
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