sábado, 29 de outubro de 2016

"Estâncias", de Emily Brontë

"Já me reprovaram e volto sempre
Aos primeiros sentimentos que nasceram comigo;
Deixo de correr atrás do ouro e do conhecimento,
Para sonhar apenas com maravilhas impossíveis.

Mas hoje
Não descerei mais ao império das sombras;
Tenho medo da sua frágil e decepcionante imensidão,
E meu sonho, povoado com legiões inumeráveis,
Torna este mundo sem forma estranhamente próximo.

Caminharei,
E ficarão para trás as antigas verdades do heroísmo,
E os caminhos já exaustos da moralidade,
E o imprevisto aglomerado de faces obscuras,
Ídolos em bruma de um passado já longínquo.

Caminharei,
Onde só agradar à minha alma caminhar,
(Não posso suportar a escolha de outro guia),
Onde os rebanhos se acinzentam no verde das campinas,
Onde o vento alucinado vergasta o flanco das montanhas.

Que pode revelar a montanha solitária?
Nada exprime sua glória e sua dor..
Minha alma dormia, quando a terra despertou,
E o círculo do Céu ao Círculo do Inferno

Confundindo-se, à terra deram nascimento."

(De O vento da noite, tradução de Lúcio Cardoso, Civilização Brasileira.)

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