sábado, 15 de outubro de 2016

"Onde pois estavas tu", de Emily Brontë

"Onde pois estavas tu? Em vão te procurei,
Um olhar brilhou, acreditei reconhecê-lo,
Mas em torno desta fronte brincavam cachos negros;
O olhar cintilava como se fosse estranho astro
À minha alma extasiada.

E eu sentia meu coração, angústia de meus olhos,
Abandonar-se de repente à doçura de um sonho.
Tremia à ideia de saber seu nome,
E no entanto eu me inclinava e esperava sua voz,
Esta voz que eu jamais tinha ouvido,
Que me falava docemente dos antigos anos,
E parecia despertar uma imagem longínqua.
Lágrimas subiam e queimavam os meus olhos.

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Permaneci no limiar, imóvel, um instante.
Olhei a amplidão;
E vi os céus, o círculo das montanhas
Negras.
A lua em meio à sua viagem era um claro navio
Vogando de alto bordo no oceano do espaço.
O vento passava como um murmúrio,
Estranhamente povoado de ecos e fantasmas.

E foi então que franqueei os muros
Da sombria prisão que me serve de lar,
E que eleva seu mistério sobre a planície vazia.

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Oh! vem, segue-me, dizia a canção de passagem;
A lua esplende, bela, nos outonos do céu;
É tempo de vir.
Há muito esgotados por um trabalho inglório,
Os olhos e a cabeça pedem repouso.

Vem!"

(De O vento da noite, tradução de Lúcio Cardoso, edição da Civilização Brasileira.)



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