domingo, 22 de dezembro de 2013

O amor acostumou-se...

... a se confundir com o escuro. Só sai à noite. Esgueira-se, esconde-se, oculta-se. Tem vergonha de ser o que é. Se por acaso alguém o vê, o amor precisa fugir das gargalhadas e das pedras. Ele é o maldito que um dia ousou censurar os que se comprazem com o sexo e derramam champanhe nas coxas das mulheres e regam seu ventre e testam o sabor com a ponta da língua no umbigo. Foi espancado, escorraçado, renegado, mas todos estão atentos. Que ele não volte nunca, que não aponte o dedo para nenhum dos que têm a ciência de dedilhar, de manusear, de entrar, de penetrar, de mexer, de remexer, de dar novo sentido aos vocábulos sujos que excitam mais do que os versos de Camões. Que ele jamais reprima a arte dos que buscam o prazer com a saudável animalidade dos que não estão dispostos a ouvir balelas. Que seja banido para sempre, ele e sua rosa murcha que não entra mais em nenhum vaso sem se dobrar.

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