segunda-feira, 7 de junho de 2010
Pequenas alegrias urbanas (182) -- Herói
Ele viu o homem apertar o pescoço da mulher, fazendo-a de escudo, e ameaçar esfaqueá-la se os dois policiais não se afastassem, enquanto a multidão, estupefata, não se movia. Indignado, porque o pai havia sido assaltado ali uma semana antes, ele se aproximou sorrateiramente do bandido e, com um salto, o atirou longe e o desarmou, enchendo-lhe depois a cara de bofetões. Quando se levantou, surpreendeu-se ao ser empurrado por um dos policiais, ao mesmo tempo em que o outro perguntava ao bandido se tinha sofrido algum ferimento. Em vez de aplausos, ouviu que o chamavam de burro, riam dele e o vaiavam, e um gorducho nervoso que segurava um objeto semelhante a uma prancheta berrou a um centímetro do seu rosto, salpicando-o de saliva: "Imbecil, isto aqui é uma filmagem, não está vendo?" Ele se encolheu, tentou desaparecer dentro de si mesmo e foi saindo devagar, embora tivesse vontade de correr. Ao chegar à esquina que, dobrada, o afastaria da humilhação, uma mulher de uns setenta anos, cujs olhinhos sumidos tentavam enxergar alguma coisa sob as grossas lentes, pôs-lhe a mão no braço e disse: "Parabéns, você é um herói."
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