segunda-feira, 21 de junho de 2010
Lírica (113) - O passarinho
Então, certo dia, um passarinho diferente, exótico, que jamais alguém tinha visto por ali, pousou numa das árvores do jardim da casa amarela. Toda manhã uma mulher jovem, quase menina, dava-lhe, na mão em concha, água e comida. As pessoas perguntavam-lhe de que espécie o passarinho era e se ele não cantava. Ela respondia dizendo um nome estranho, que ninguém sabia reproduzir, e com um sorriso completava: "Logo ele vai cantar." E, uma semana depois de chegar, o passarinho fascinou a vizinhança com um canto sem igual, majestoso, celestial, um canto prometido à jovem mulher por seu amado, que, de um lugar longínquo do planeta, havia mandado aquele presente único que, agora, depois de atravessar um oceano, e enfim livre da fadiga da viagem, dizia o que o enamorado lhe pedira para transmitir à sua amada. E ele passou a cantar mais forte, mais forte, até que, um mês depois de ter aparecido, sumiu. Aos vizinhos que estranharam, a jovem mulher respondeu que o passarinho estava voltando para a terra dele, citou um lugar desconhecido pelas pessoas e pelos mapas e, enquanto o pronunciava, seus olhos ganharam um desses brilhos que só se veem nos olhos de uma mulher apaixonada quando imagina um pássaro batendo as asas sobre um mar azul.
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