domingo, 24 de julho de 2011
Amy
Tu deste tantos recados, menina Amy, tantos, e nós, os velhos, nós, os que conhecemos tudo da vida, nós, os ponderados, ficamos dizendo que era charminho teu, vontade de aparecer. Tu te esganiçaste, tu te estilhaçaste, tu choraste, tu ensaiaste tua morte tantas vezes, tantas, e nós pusemos para tocar Mozart, Bach, Chopin. Aquilo, sim, era musica, quem tu pensavas que eras? E tua voz se fez rouca de desespero e álcool, tua voz de adulta precoce nos disse por tantos anos, tantos, uma palavra que nos recusamos a ouvir: socorro. Hoje tenho vergonha, nojo, asco de minha velhice, menina Amy, de meus anos bem vividos, de minha sensatez, e minha máscara de sábio me dói no rosto e cospe uma saliva podre em minha alma.
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