quinta-feira, 21 de julho de 2011

Compostura

Com os seus setenta e dois anos, acha que já tem direito a duas ou três convicções. Por exemplo: jamais sorrirá para foto nenhuma. Precisa respeitar o morto que logo vai ser. Que pantomima é ler necrológios em que se citam os sofrimentos de alguém e ver, ao lado, aqueles trinta e dois dentes de ganhador de megassena. Quando lhe apontam uma câmera, ele não mente mais, fecha amargamente a boca. Aos mortos que já são, e aos que serão, há que se prestar reverência. Se estivesse convencido disso antes, nem de suas fotos do tempo de bebê poderiam dizer, como ainda dizem em reuniões de família: olha que gracinha ele era, com esse sorriso banguela.

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