quarta-feira, 4 de abril de 2012

O que tenho

Não tenho comendas
nem honrarias
só escárnio recebo
e zombarias

Não tenho condecoração
alguma
e ordem também
nenhuma
nem sequer de prisão
(trajetória obscura é a minha
não matei o rei
não difamei a rainha)

O que tenho
é um vale-transporte
que conduz
de sul a norte
esta melancolia
que mia dentro de mim
como um gato tuberculoso
abandonado à sorte

O que tenho
e me cai bem
a minha riqueza
é esta tristeza
é esta ligação
que não tenho com ninguém
esta solidão
esta vocação
esta inclinação
esta aptidão que tenho só
para a autodestruição
e este flerte com o pó.

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