quinta-feira, 12 de abril de 2012
A praça
Quando a passarela foi inaugurada, os pedestres descobriram que, além da segurança, tinham agora uma esplêndida vista da ampla e arborizada praça à qual, no tempo em que lutavam para escapar dos carros lá embaixo, não prestavam atenção. Nos primeiros dias depois da inauguração, era comum ver gente debruçada no parapeito, soltando interjeições de admiração, como se também a praça fosse obra recente. Num desses dias, um office-boy, olhando lá de cima, imaginava como seria bom passear de bicicleta ali, num domingo. Já economizava mentalmente para comprar a bicicleta, quando viu passar lá embaixo uma mulher de vestido curto que ele, se fosse mais íntimo dos adjetivos, definiria como magnífica. Logo esqueceu a bicicleta e se pôs a pensar em empreendimentos maiores. Encostado ao lado dele, estava um sessentão que comentou: "Mas que maravilha, hem?" "É, o senhor viu que pernas?" O homem cuspiu palavras e perdigotos num jato só: "Pernas? Que pernas? Eu estou falando da praça, seu tarado!"
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