sábado, 9 de março de 2013

Dois parágrafos de Luiz Carlos Cardoso

"Faz anos, eu pelos dezoito, vi num filme americano um personagem acusar outro de ser "loser" e esse conceito desde então me acompanha. Em relação a diversos conhecidos o invoco sem lhes dizer, ou dizendo, mas me mantenho isento o bastante na distribuição da pecha para aplicá-la também a mim. Serei um "loser"? (Pronuncia-se luser, sem ênfase no u nem no er.
     Traduz-se loser como "o que perde", ou seja, o perdedor. Mas perdedor, no caso, não é o que perde apenas e sim o que sempre perde. Perder é contingência de viver e até pode ser que, enquanto se vive, mais se perde do que se ganha, mesmo os viventes bem-sucedidos. Perdem-se esperanças, ilusões, neurônios. E, claro, no longo prazo perdemos todos, sem remissão, a vida."

(Do livro Crime improvável, publicado pela Ficções.)

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