terça-feira, 19 de março de 2013
Estações de frutos
A primeira estação de frutos passou, a segunda também, e a terceira. Não colhemos nenhum, nunca, e a cada estação que passava nós nos olhávamos com um sentimento de perda. Jamais nos dissemos nada, mas pairava entre nós uma suspeita de culpa, cuja autoria, por delicadeza, nos isentamos de averiguar. Embora com discrição, lamentamos as estações perdidas. Não deveríamos lamentá-las. O que nos pareceu uma derrota é talvez nossa vitória. Se fizéssemos o que nos recomendava o óbvio, teríamos colhido os frutos de três estações. Conheceríamos o gosto de cada um deles, e a memória, zelosa defensora do passado, depreciaria seu sabor. Vem chegando mais uma estação. Que gosto terão os frutos que ela trará? Podemos prová-los. Ou podemos deixá-los nas árvores, como os outros, e livrá-los da deturpação da memória.
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