quinta-feira, 21 de março de 2013

Kama Sutra - CXLVII

Enquanto a observa tomar o sorvete com a pequena colher, ele - que se habituou a ser modesto até nas fantasias - não se fixa na boca e na língua, nem no que elas poderiam lhe proporcionar, se tocassem amavelmente seu corpo. Fica olhando a mão e acompanhando a graça com que pega o sorvete e o leva aos lábios - sabor de chocolate misturado ao morango do batom. Nem pensa no que sentiria se essa boca quisesse deixar marcas amorangadas no seu corpo. Continua fascinado pela mão e imagina que felicidade ela deve semear no corpo de um homem que a mereça (e aí, sim, com a bem-vinda ajuda da língua e da boca). E pensa também no caminho que esses cinco dedos, na cama e no chuveiro, podem seguir no corpo da mulher que agora, com avidez requintada, revelada só pelos olhos, lambe a última colherada de sorvete.

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