terça-feira, 5 de março de 2013

Kama Sutra - CXXVII

Marujo velho, aposentado das aventuras marítimas, trocou o navio pelo sofá. Às vezes sonha e se vê de novo enfrentando as ondas e as tempestades, ou caminhando pelas ruas noturnas da cidade onde aportou, olhando as mulheres que se oferecem ao jejum dos marinheiros. Mas nunca a cena prossegue e ele acorda, não numa esquina cheirando a sexo, mas no sofá, e apalpa tristemente sua pele velha. Seu cérebro conhece bem as deficiências do seu corpo. Hoje sonhou com uma mulher que se deitou sobre ele, no convés. Estavam nus os dois, era uma noite espessa e de vez em quando o navio, fustigado pelo vento, fazia a mulher sacudir-se quase convulsivamente. Ele, também sacudido, segurava-se a ela e por ela era seguro. Subitamente, com a mulher mexendo-se em cima dele como se estivesse escalando uma escada horizontal, ele foi atingido pela espuma atirada por uma onda. Acordou nesse momento e seu primeiro impulso foi, como sempre, armar a carranca de ressentido e derrotado e apalpar sua pele velha. Armou a carranca, mas não apalpou a pele. Pousou a mão entre as coxas. Então sorriu, como havia muito tempo não fazia. Era pouco provável que a umidade na calça tivesse sido provocada pela espuma da onda.

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