quinta-feira, 7 de março de 2013

No jornal - 59 - Ademir Fernandes

Nos cinemas antigos os assentos eram rústicos e desconfortáveis, de madeira, com uma fenda logo atrás das nádegas de quem neles sentava. Uma noite, no velho Art Palácio, na avenida São João, no meio da exibição de um filme, um rapaz, como o espaço entre uma fileira e outra era muito reduzido, estendeu o braço e pôs-se a passar a mão numa mulher. Supondo que ela estivesse gostando, ele foi se tornando mais ousado. Quando a mulher gritou "Socorro! Tarado!" e as luzes todas se acenderam, ela estava segurando a mão do rapaz, que alegava inocência: "Não fui eu, não fui eu!" Esse episódio tem semelhança com o que, como me contou Darci Higobassi, que foi redator na Editoria de Esportes, acabou levando Ademir Fernandes ao jornalismo. Ele estava uma tarde num cinema em Jundiaí, onde morava, e ao acabar a sessão notou que alguém, aproveitando a fenda no assento, cortara a aba do seu paletó. Indignadíssimo, Ademir foi protestar na gerência. Disseram-lhe que não podiam fazer nada e ele, inconformado, escreveu uma carta ao diário local. O secretário do jornal a achou tão bem escrita que Ademir, aceitando o convite dele, começou a fazer trabalhos para a redação. Trabalhou depois, por vários anos, no Jornal da Tarde e na Agência Estado. Era o rei do trocadilho. Fazia-os com grande facilidade. No fim da vida, muito doente, se lhe perguntavam como ia, a resposta era: "Morrendo e aprendendo."

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