segunda-feira, 4 de março de 2013

No jornal (Major Quedinho) - 53 - Revisores revisados

O teste para ingresso na revisão era uma inacreditável sequência de armadilhas para os candidatos. Havia questões de concordância, de regência, de sintaxe, além de uma lista de palavras (cem, se não me engano) que, não aparecendo normalmente em jornais, livros e revistas, faziam suar frio os que concorriam a uma vaga. A maior parte das duas horas do teste era consumida em decidir se era terebintina ou terebentina que se escrevia, aguarrás ou aguarraz, imarcescível ou imarcessível. Apesar disso, e da honestidade a toda prova do chefe de revisão, Nélson Lima Neto, tivemos por ali, em certa época, um revisor que era insanavelmente inepto, a ponto de provocar risos quando falava. Como numa noite em que, conversando com a namorada, lhe fez um convite: você queres ir? Mas houve algo pior, anos depois. Era o tempo em que sobre todo funcionário novo, em qualquer seção, incidia a suspeita de ser um agente infiltrado no jornal pelos órgãos de repressão. De repente, vimos instalado refesteladamente na mesa do chefe um tipo que parecia nunca ter visto uma gramática, vindo do setor de segurança de uma fábrica de cigarros, e que se notabilizou, entre outras, pela frase que toda noite dizia, dirigindo-se a nós quando o trabalho estava encerrado, e que era uma repetição quase exata daquela do revisor bisonho. Em vez de você queres ir, ele nos convidava: se vocês quiserem, podem irem.

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