sexta-feira, 8 de março de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 61 - Carlos Lacerda
Em um sábado de manhã fomos surpreendidos com a visita de Carlos Lacerda à revisão. Ele vinha nos trazer solidariedade pelo atentado que o jornal havia sofrido naquela semana. Lembrei-me disso agora e de como eram comuns esses ataques, a ponto de algumas vezes não usarmos, embora trabalhássemos num local elevado, o quarto andar, as mesas que ficavam próximas das janelas. De vez em quando, naquela fervilhante época de embates políticos e ideológicos, quase todos os dias armava-se repentinamente uma passeata, com suas habituais palavras de ordem ("Abaixo o Estadão, morram os Mesquitas"), e lá de baixo se disparava a esmo contra o prédio. A frase de Lacerda para nós foi "parabéns pelo que houve e pelo que não houve". Os parabéns pelo que houvera (o atentado) eram certamente uma reafirmação de que o jornal, se tinha sido atacado, era porque continuava defendendo suas teses e seus ideais. E os parabéns pelo que não houvera referiam-se à bênção de ninguém haver morrido (saiu ferido o porteiro, cujo nome infelizmente não recordo). Lacerda, uma das personalidades mais amadas e mais odiadas do País, era um homem de espírito, talvez o último grande orador do Congresso Nacional. Logo depois do Movimento de 1964, ele, entrevistado por jornalistas em Paris, ao ouvir o comentário de que aquela havia sido mais uma revolução sem derramamento de sangue, no Brasil, revidou com igual sarcasmo: "Pois é, exatamente como os casamentos aqui na França."
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