sábado, 18 de maio de 2013
Priscylla (6)
Do segundo encontro com Priscylla Mariuszka Moskevitch, o que guardo de mais vívido (e importante, já que a beleza é o principal motivo deste relato) foi o toque de seus cabelos molhados em meu rosto, quando ela chegou e nos cumprimentamos. Garoava nessa manhã, mas eu - talvez porque isso me fizesse de algum modo entrar em sua intimidade - imaginei que ela tivesse trazido aquela umidade de sua casa, do seu chuveiro. Da conversa desse dia lembro-me pouco, porque o encontro foi rápido (ela ia almoçar com um amigo). A palavra amigo, naturalmente, insinuou em mim uma inquietação que logo se transformou em despeito, ciúme, dor. Eu não era nada para Priscylla, como, por sinal, jamais cheguei a ser, mas a menção ao amigo, com o sentimento de perda que provocou em mim, me deu a primeira das agulhadas que viriam a me atormentar por muito tempo. Eu percebi, sem nenhuma dúvida, ser mais um dos tolos para os quais a beleza é algo de que alguém pode apropriar-se. Meu rosto, e meu braço, que havia sentido também o arrepio dos sedosos fios molhados, ardiam como se os cabelos de Priscylla fossem chamas. A beleza, da qual eu pretendia apossar-me, apossara-se de mim e já estava certa de que me escravizaria. Eu aprendia minha primeira lição daquilo que iria constituir uma longa e agridoce vassalagem.
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