quinta-feira, 4 de julho de 2013
Equívoco
Acreditei em Fernando Pessoa e, seguindo seu conselho, para ser grande quis ser inteiro. Apaixonei-me pelas notas agudas do violino, pelas mulheres de rostos pálidos, por seus vestidos de seda, pelas unhas esmaltadas e pelos colares de três voltas. Como os antigos poetas e como o Quixote, elegi uma musa e a coloquei ao lado daquelas estrelas que compõem o séquito da Lua, quando ela passeia pela Noite. Julguei-me poeta, versejei, reguei poemas com sangue e lágrimas. Enfim, vi-me inteiro e, quando me vi, a minha inteireza era feita de uma pequenez tão ínfima que ter morrido naquele instante seria uma bênção. Eu nasci para ser talvez um lavrador, ou um guardador de rebanhos, e a arte que talvez me conviesse seria aquela de, à noite, puxar do bolso uma gaitinha de boca e tocar Ó Susana.
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