sexta-feira, 28 de março de 2014

Dois poemas de Tu Fu para Li Po

"Três noites seguidas venho sonhando contigo.
Estavas à minha porta.
Passavas a mão pelo cabelo branco.

Depois de dez mil, cem mil outonos,
não terás outro prêmio que o prêmio inútil
da imortalidade."

                              ***

"Tu escreves como o pássaro canta. Teu gorjeio? Versos.
Se não cantasses, as manhãs seriam menos vermelhas e os crepúsculos menos azuis.

Quando a embriaguez te inspira, os Imortais inclinam-se das nuvens para te escutarem, o tempo suspende seu voo, o bem-amado esquece a bem-amada.

Tu és o Sol e nós, os outros poetas, somos apenas estrelas.

Acolhe, ó meu amigo, o balbucio do meu respeito!"

(Do livro Poemas chineses, tradução de Cecília Meireles, publicado pela Editora Nova Fronteira.)


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