sábado, 29 de março de 2014
Por onde andará o amor...
... esta noite, nesta cidade de tantas ciladas, de tantas ruas assassinas e tantos logros nos logradouros? Por onde andará o amor, com seu caderninho cheio de sonetos e seus olhos de ingênuo menino? As putas o seguem, pedindo-lhe estrelas que ele não lhes dará, estrelas que regou com lágrimas para sua amada. Os bêbados o acompanham, talvez ele queira embebedar-se com eles e pagar a conta. Um tipo magro e estranho o segue também, com um revólver, uma faca, uma corda e um veneno, todos apropriados para um poeta pálido e desiludido. No momento certo e no quarteirão adequado, oferecerá todos por um preço camarada, que até um poeta possa pagar. Estará tudo pronto para o drama hoje, como esteve ontem e anteontem. Mas provavelmente o poeta sobreviverá, acordará amanhã com o gosto do conhaque vagabundo na garganta e recomeçará, com seus garranchos, a escrever os sonetos com que jamais conseguirá convencer o coração da bem-amada.
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