quinta-feira, 1 de maio de 2014

De Rosa Montero sobre Verlaine e Rimbaud

"Verlaine sempre teve medo de ser frágil (o que era) e burguês (também), e o selvagem e visionário Rimbaud o impedia de acomodar-se e concedia à sua absurda e descontrolada vida um sentido transcendente. Afinal eles não estavam chegando aos píncaros místicos e poéticos por meio da perdição e da miséria? Ambos eram herdeiros do Romantismo e filhos da desordem. Viviam num mundo que acabara de matar Deus e de descobrir que o Mal está dentro de nós (disto falariam pouco depois Stevenson em seu O médico e o monstro e Freud em sua teoria da psicanálise) e, para defender-se desse vazio repentino, quiseram construir uma nova razão da desrazão. E, assim, comiam haxixe (na época não se fumava essa droga) e se embriagavam metodicamente com absinto e erva-santa, ansiosos por transcender os limites de uma racionalidade que havia demonstrado não servir para muita coisa. Tudo isso levou Rimbaud, que já vivia no delírio, a um estado de constante perturbação: via salões no fundo dos lagos, mesquitas orientais no perfil das fábricas de Paris."

(Do livro Paixões, tradução de Maria Alzira Brum Lemos e Ari Roitman, publicado pela Ediouro.)

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