"O que de mim soubeste
não foi mais que a aparência,
a túnica que reveste
nossa humana aventura.
E talvez além do pano
o azul tranquilo estivesse;
tapava o claro céu
um simples sigilo.
Ou era de fato a estapafúrdia
mudança de minha vida,
o abrir-se de uma terra
incendiada que jamais verei.
Restou assim esta casca
minha real substância;
o fogo que que não se amortece
para mim chamou-se: ignorância.
Se divisas uma sombra, não é
sombra - mas eu próprio.
Pudesse arrancá-la de mim
e te ofereceria de presente."
(De Poesias de Eugenio Montale, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicação da Record.)
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