sexta-feira, 11 de novembro de 2016
O poeta, hoje
Os sonetos agora me cansam. Catorze versos já não são para a minha idade. Só trapaceando eu consigo carregá-los. Não ponho neles a febre que punha na adolescência. A maturidade não faz bem aos poetas. Ela os conduz pelas trilhas mais curtas. Os poetas mais velhos zombam dos poetas jovens, que têm a aspiração de se dar, de morrer em cada verso. E advertem: assim vocês não chegam à nossa idade. Mas bem que gostariam, bem que gostaríamos de nos entregar como antigamente e de gastar a vida em palavras escritas com suor e sangue. Ah, como nos redimiríamos se pudéssemos, como estes novos agora tentam, oferecer a vida por uma fatia de arte. Que vida? Não certamente esta. Que vida há neste corpo em que os ossos frágeis substituíram a carne flamante? Que vida há nestes olhos, tão velhos que qualquer fagulha de esperança pode ser imediatamente denunciada como uma obscenidade?
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