quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Personagens, quase parentes
Tenho saudade dos anos em que escrevi novelas juvenis para a coleção Vaga-Lume, da Ática. Que experiência era criar os personagens, traçar-lhes o perfil, fazê-los agir de acordo com a trama e, como um pai, esmerar-me para que tanto meus "filhos" vilões quanto os heróis fossem os melhores vilões e os melhores heróis. Alegravam-me seus sucessos e abatiam-me seus fracassos. Temia magoá-los. A personagem que teve o mais imprevisto destino foi uma velhota cujo papel seria a princípio tão fortuito que um parágrafo ou dois lhe bastariam. Sua simpatia a levou a ganhar um espaço bem maior, um nome (estava inicialmente destinada a ser anônima) e, por um mérito que ela surpreendentemente me impôs, depois de encantar outros personagens, se tornou uma espécie de chave para a compreensão do livro. Sempre que me lembro dessa velhinha do meu livro Um inimigo em cada esquina me vem também à memória a peça Seis personagens à procura de um autor, de Pirandello, na qual se pode ver que, ao contrário do que se costuma imaginar, um autor está longe de ter nas mãos o controle total do que escreve.
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