sábado, 28 de julho de 2018

"Bolsistas da Fulbright", de Ted Hughes

"Onde teria sido, no Strand? Notícias
Em exposição,  fotografias.
Não sei por quê, me chamou a atenção
Uma foto da mais recente leva
De bolsistas da Fulbright. Prestes a vir
Ou recém-chegados. Ao menos alguns.
Você era um deles? Examinei a foto,
Não muito a fundo, me perguntando quais
Eu talvez viesse a conhecer.
Lembro de ter pensado nisso. Não lembro
Teu rosto. É claro que olhei mais
Para as moças. Reparei talvez em você.
Quem sabe a avaliei, e achei pouco provável.
Vi seus cabelos longos, ondas soltas -
A franja à Veronica Lake. Não o que ela escondia
Loura, eu teria pensado. E o seu sorriso.
Seu sorriso americano exagerado
Para as câmeras, os juízes, os estranhos, os atemorizadores.
Depois esqueci. Mas me lembro
Do fato: os bolsistas da Fulbright.
Com bagagem e tudo? Pouco provável,
Teriam vindo todos juntos? Eu estava caminhando,
Pés cansados, sol forte, calçados quentes.
Foi então que comprei um pêssego. É o que lembro.
Num quiosque junto à estação de Charing Cross.
O primeiro pêssego fresco que jamais comi.
Tão gostoso que mal acreditei.
Aos vinte e cinco anos mais uma vez me surpreendi
De ver que ignorava as coisas mais simples da vida."
(De Cartas de aniversário, tradução de Paulo Henriques Britto, publicado pela Record.)

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