segunda-feira, 23 de julho de 2018

Do fim de uma carta

Acabei falando tanto de literatura - e havia mil outras coisas a dizer. Começo a julgar que você está com a razão. É muita presunção minha ficar citando a todo instante esses meus autores favoritos, como se você nunca tivesse ouvido falar deles. E é natural que você se pergunte, como eu me pergunto agora: quando chamo Fernando Pessoa, T.S. Eliot e Sylvia Plath de mestres, não estou de certa forma me enaltecendo como discípulo? Ah, eu não sei. Mas reconheço que poderia falar de você, de nós, disso que parece estar nos acontecendo. Deu-me vontade de escrever sobre você, sobre seus olhos, sobre seus cabelos, mas me vieram imagens que você naturalmente chamaria de metáforas... Deixo então de lado a literatura, por agora, antes que você a amaldiçoe irremediavelmente, e lhe digo que, se for amor isto que nos apanhou tão repentinamente, eu a amo, sem atrever-me a usar um advérbio sequer, para que você mais facilmente me absolva.

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