sexta-feira, 11 de junho de 2010
Lírica (11) - Como o Bolero
Como o Bolero de Ravel, que se anuncia ao longe e vem crescendo cuidadoso, para que o coração se prepare para a beleza que, se o pegasse desprevenido, poderia de êxtase matá-lo, como o Bolero de Ravel, que sobe, e retumba, e vem, e chega, e exalta a alegria da vida, e depois se vai e se esvai aos poucos, para que o coração não sofra a repentina desilusão de sentir que a vida começa a se afastar, deixando um vazio que poderia aniquilá-lo, você vem assim, minha querida, lenta, e cresce aos poucos, e grita com todos os sons que a vida é bela, a vida é única, e depois vai saindo, vai se distanciando, mas deixa no ar ainda uma plenitude, uma beleza que a recordação há de reproduzir, e repetir, e renovar, e celebrar, como o Bolero de Ravel.
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