Como compensação para os (im)prováveis leitores do blog - se perdão merecem meus esganiçamentos "poéticos" -, transcrevo o poema Fotografia de 11 de Setembro, de Wislawa Szymborska, extraído da antologia Alguns Gostam de Poesia, publicada pela Cavalo de Ferro Editores, de Portugal. Hoje, ao lê-lo, senti que dediquei minha vida toda ao exercício de algo que não me fez ser mais do que um farsante...
Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,
mais acima, mais abaixo.
A fotografia deteve-os na vida,
preservou-os
sobre a terra rumo à terra.
Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.
Ainda estão no âmbito do ar,
ao alcance dos lugares
que acabaram de se abrir.
Só duas coisas posso por eles fazer
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.
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