quinta-feira, 21 de março de 2013
Boa noite
Chega uma hora em que o homem deve admitir que perdeu. É doloroso nos despojarmos das quimeras que criamos e alimentamos, dos sonhos que por décadas deixamos pastar no mais verdejante dos prados, como se fossem ovelhas sagradas. A vida é isso. Criar, fantasiar, iludir-nos. Nisso gastamos toda a nossa energia para, no fim, vermos o que todos os homens acabam vendo: que, não importa como a planejemos ou imaginemos, a vida não existe para realizar coisa alguma e as ovelhas sempre estiveram fadadas a morrer. A vida serve para nos ensinar que nada entendemos dela, e assim foi sempre, desde a primeira das gerações sobre a Terra. Orgulhemo-nos de ter cometido os mesmos erros dos nossos irmãos. Eles e nós, se soubéssemos que era esse o espírito da vida, não teríamos no final esse desencanto que, no fundo, é nossa única vitória. Nós tentamos, e as lágrimas são o nosso triunfo. Se ríssemos nos últimos passos da jornada, não mereceríamos ser chamados de homens. Esse é o nosso destino, e sempre será. Abençoado é o momento em que o homem descobre que todo o tempo esteve trabalhando para colher lágrimas. Nós as merecemos. E, porque descobri isso agora, com sua crua beleza, eu, finalmente com toda a sinceridade, chamo esta noite de boa e de bela.
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