sábado, 16 de março de 2013

De uma carta para Aurélia, de Gérard de Nerval

"Li sua carta; a senhora é mesmo cruel. De tão doce e boa que ela é, só posso lamentar minha sorte. Mas se eu visse a senhora como era antigamente, provocante e pérfida, ah! eu diria como Fígaro: "Vosso espírito faz pouco do meu." Esta ideia de que se pode encontrar algo de ridículo nos sentimentos mais nobres, nas emoções mais sinceras, gela-me o sangue e me torna injusto, contra minha vontade. Oh! não, a senhora não é como tantas outras... a senhora tem coração, e sabe que não se deve brincar com uma paixão verdadeira.
                                                               ***
Quanto ao ciúme, esse é um lado bem morto em mim. Quando tomo uma resolução, é com toda a firmeza; quando estou resignado, é para valer. Penso em outras coisas e organizo minhas ideias conforme as circunstâncias Meu espírito sabe sempre dobrar-se diante de fatos irrevogáveis. Assim, minha bela amiga, me conhece melhor agora. Deixo tudo isso para suas reflexões, e só levarei em conta os efeitos delas. Não receie, portanto, me ver. Sua presença me acalma, me faz bem; sua conversa me é necessária e me impede de entregar-me..."

(Do livro Aurélia, tradução de Luís Augusto Contador Borges.)

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