quinta-feira, 21 de março de 2013
Kama Sutra - CXLVIII
Nas manhãs de domingo, de biquíni, à borda da piscina do prédio, ela fica se bronzeando. Do segundo andar, ele a observa. Ela sabe que ele está ali, porque a cortina sempre se mexe, mesmo com a janela fechada. Ele sabe que ela o pressente. Seria impossível não pressentir. Há uns cinquenta e poucos domingos essa cena se repete. Para se bronzear por igual, de tantos em tantos minutos ela se vira e fica de frente ou de costas para o sol - e de tantos em tantos minutos a cortina se agita, como se o vento a sacudisse. Ela fica uma hora e meia, em média, na piscina. Quando sobe para o apartamento, no segundo andar, ele abre a porta para ela e vão para o chuveiro. Não são jovens mais, são quarentões, mas nas manhãs de domingo, já há um ano, quando se mudaram da casa térrea para o prédio, eles se comportam como colegiais. Embaixo do chuveiro, os dois se bebem, se tocam, se engolem, e em pé mesmo, como namorados suburbanos, gozam o casamento como jamais haviam gozado nos onze anos anteriores. Nuunca revelaram um ao outro que praticam esse jogo de observar e ser observada que o acaso lhes ensinou no primeiro domingo no prédio e que os faz gemer enquanto a água morna e o vapor envolvem seus corpos.
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