domingo, 10 de março de 2013

Kama Sutra - CXXX

Já foi mais ambicioso. Agora acha que beijá-la lhe bastaria. Imaginando o cenário, descartou camas, sofás e também variantes menos ortodoxas, como mesas subitamente despojadas de toalhas e enfeites, ou superfícies providas ou não de tapetes. Gostaria de beijá-la em pé, depois de encostá-la delicadamente numa parede ou numa porta. Já decidiu que, se a oportunidade surgisse, a beijaria ternamente, devagar, sem exageros de bocas chuponas e línguas intrometidas. A beijaria como um namorado ainda inseguro, temeroso de se mostrar demasiadamente ávido. A beijaria e, se aumentasse a intensidade dos beijos, a aumentaria aos poucos, tomando cuidado para que seu corpo, embora colado ao dela, não a pressionasse demais. A beijaria quase castamente, porque é castamente que sempre tenta pensar nela, mesmo nos momentos em que a imaginação, como agora, prevendo como seriam os beijos que lhe daria, o faça pensar em látex escorrendo da casca da seringueira e em palavras como liquen, seiva, jorro e sêmen.

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