sexta-feira, 15 de março de 2013

Os setenta

Lê todo dia os bate-bocas entre os escritores que estão numa lista de setenta escolhidos para representar o Brasil em Frankfurt e os que não entraram. Acredita que o reconhecimento possa ser importante para um artista, mas seu estômago se revira quando ele vê esse reconhecimento ser disputado com tamanho alarde. Parece coisa de circo, de acrobatas, de prestidigitadores, de macaquinhos andando de bicicleta. Ninguém, hoje, daria a vida, como Virginia Woolf, para escrever uma obra-prima. Trabalha-se para ganhar concursos, prêmios, dosando bem os ingredientes e imaginando o que poderá agradar mais à comissão julgadora (aqueles seis ou sete de sempre, que conseguem ler e avaliar quinze mil originais em dois meses). Escrever é hoje um negócio do qual participam os relações-públicas, as editoras, os agentes literários e, às vezes, os autores, ele diz, desalentado, e de repente lhe ocorre que talvez estivesse berrando também, exigindo sua parte e ensaiando umas frases em alemão, se fosse escritor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário