segunda-feira, 1 de julho de 2013

Os Drewnicks...

... vão se finando. Dos que para aqui vieram, noventa anos atrás, restou uma de minhas irmãs. A penúltima se foi ontem. Trabalharam duro, num tempo em que trabalhar duro era comum e não era tido ainda como epopeia. Não falavam uma palavra em português quando desembarcaram, e nem sabiam bem onde estavam. Foram se arranjando. Cada um se empregou em algum lugar - até minhas irmãs, que viraram pajens - e conseguiram sobreviver. Depois desse estágio, um orgulho próprio das famílias de outrora levou todos a concentrar esforços para que pelo menos um de nós estudasse. Meu irmão (nascido já aqui, como eu) já trabalhava também, entregando remédios numa bicicleta, e coube a mim, o caçula, ser o estudante. Devo isso a todos eles e me arrependo de não ter sido nada melhor do que fui. O esforço deles merecia isso. Eu peguei ainda, bem pequeno, um pouco dos mais difíceis tempos da família. Morávamos numa pensão na Barata Ribeiro. A dona cobrava pelos banhos quentes. O chuveiro era na parte alta do lúgubre sobrado, onde ela ficava instalada, dia e noite atenta para que ninguém desfrutasse aquele luxo da civilização sem pagar. Era ajudada, nessa vigilância, pelo barulho aterrador que fazia o chuveiro. Mesmo assim, de vez em quando, de madrugada, um ou dois de nós subíamos a escada, que rangia para acordar a mulher, e burlávamos a fiscalização. Que delícia era aquele banho roubado. Jamais tomei um igual. Chamávamos a dona da pensão de bruxa. Pobre mulher. Pensionistas viviam fugindo e ela talvez fosse mais pobre do que nós.

2 comentários:

  1. Meus sentimentos, Raul! Mas, mesmo sem conhecer tanto sua história de vida e sua pessoa, discordo da frase: "Devo isso a todos eles e me arrependo de não ter sido nada melhor do que fui.". Acredito, pelo que leio, que faz sim juz ao esforço de todos eles.
    Venho aqui para confirmar nova postagem no Cria de Saturno. Obrigada sempre pelos incentivos! Um grande abraço!!!

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    1. Ivna, obrigado pelo conforto. Tomara que você esteja ao menos um pouco certa na avaliação que faz de mim. Procuro, na minha relação com a literatura, ser sincero e honesto. Pena que não baste. Sinto-me sempre aquém do que gostaria de fazer. Enquanto isso, a areia escorre da ampulheta. Vou ler seu novo texto. Avante, sempre. Os tropeções fazem parte do caminho e, se nos ferirem os joelhos, quem se importa com eles? Abraços

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